sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Artigo: Fusões

Zóia Vilar Campos


Qual o papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico)? Seria o de financiar e mediar as negociações entre multinacionais e grandes grupos empresariais brasileiros, ou, o de dar acesso ao capital para pequenas e médias empresas nacionais?
Livramo-nos, momentaneamente, de emprestar dinheiro para bancar a fusão entre as empresas Pão de Açúcar e Carrefour. Não por bom senso dos nossos dirigentes, mas por desentendimentos entre o Pão de Açúcar e o Casíno, visto que esse último objetiva assumir o comando do grupo.
Segundo Luciano Coutinho, presidente do BNDES, o banco teria interesse em patrocinar a criação de um gigante do varejo. Para beneficiar quem? A população brasileira?
No século XIX , precisamente em 1895, o governador Barbosa Lima, por meio da Lei número 113, de 25 de junho, subsidiou algumas usinas já existentes e, estimulou a fundação de novas fábricas de açúcar. Mas devido à constante instabilidade nos preços, os usineiros deram-se conta da importância de manter o apoio pontual do poder público.
Em 1929, o setor agrícola brasileiro conhecia outra grande crise, principalmente, devido a não absorção da superprodução cafeeira no mercado externo, em virtude da quebra da bolsa de New York , neste mesmo ano. Mais uma vez os produtores foram socorridos pelo Estado.
O Brasil permanecia essencialmente agro exportador e dominado por uma política econômico-financeira subjugada pelo patriarcalismo. Manteve a consequente preponderância das exportações agrícolas e da importação de máquinas e equipamentos modernos, levando-o à instabilidade da balança comercial e ao desequilíbrio das contas nacionais. Dessa forma, contribuía para o aumento da dependência do Brasil no mercado externo, o que provocou crises internas, exacerbadas pelas externas, como as que ocorreram entre as duas grandes guerras mundiais. De fato, nesses dois períodos, a importação de mercadorias industrializadas ficou inviabilizada tanto no que diz respeito aos bens de consumo imediato como aos de base, da mesma forma que as exportações de matérias-primas.
Sabedores desses problemas, alguns empresários, a exemplo de Roberto Simonsen, propuseram ao Governo Federal um projeto de planificação da economia brasileira, baseada na industrialização.
A década de 40 no Brasil foi marcada pelas discussões sobre a planificação da economia. O país necessitava definir os rumos da sua política econômica, precisava deixar de tratar as questões nacionais de maneira pontual e pelos privilégios.
Não desejo me alongar na história da economia brasileira, porque este não é o objetivo deste texto, mas pelo visto o nosso Estado continua envolvido com determinados grandes grupos empresarias, permanece patriarcalista e patrimonialista.
No século XXI as economias progressistas investem em infraestrutura. Razão pela qual, seria um desatino o grupo Pão de Açúcar contar com o respaldo do BNDES para ampliar seus negócios.

Zóia Vilar Campos, historiadora, pós doutora pela Universidade de São Paulo – USP, autora dos livros, Doce amargo e A trajetória dos empreendedores italianos em São Paulo: de colonos a usineiros (1876 – 1941) é professora e membro do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do Unifieo – Geceu

Fonte: http://webdiario.com.br/?din=view_noticias&id=59203&search=

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