quinta-feira, 28 de abril de 2011

Artigo: O incompreensível Choque de Civilizações

Por Leandro Ortunes*
leandroortunes@uol.com.br

No verão de 1993, foi publicado pelo cientista político Samuel P. Huntington, o artigo O Choque de Civilizações? O artigo tornou-se um livro, e sofreu uma mudança sutil em seu título. Ao invés de uma pergunta, agora passa a ser uma afirmação: Choque de Civilizações . Esta alteração demonstra que a problemática de Huntington passa a ser uma hipótese.
Huntington cita em seu livro o conceito de Dois Mundos: Nós e Eles, e o conceito: O Ocidente e o Resto. Interessante perceber o esforço do cientista político em criar modelos ideais para analisar o cenário mundial após a Guerra Fria. Com este método Huntington divide o mundo em nove civilizações: Ocidental, Africana, Islâmica, Hindu, Ortodoxa, Latino-Americana, Budista e Japonesa. Huntington defende a ideia de um novo tipo de conflito, desta vez não mais motivado por ideologias (como na Guerra Fria), mas sim pelas diferenças culturais existentes entre as civilizações. Boa parte de sua obra relata sobre o declínio do ocidente e o ressurgimento islâmico que, segundo ele, pode por em jogo a identidade cultural do ocidente (neste caso os Estados Unidos e a Europa ocidental). Huntington defende que a cultura ocidental deve encontrar alternativas para permanecer forte mediante ao crescimento de outras civilizações.
Esta hipótese sobre o declínio ocidental e o ressurgimento islâmico acarreta outros problemas ao fazer uma leitura extremada dos textos de Huntington. Problemas como a xenofobia presente na Europa e movimentos contra a imigração muçulmana. Por este fato, Huntington é duramente criticado por vários autores, e até mesmo chamado de racista mascarado pelo mexicano Carlos Fuentes, que criticou duramente outro texto de Huntington sobre o Desafio Hispânico, no qual diz que a migração mexicana pode dividir os Estados Unidos.
Para contrapor as exposições de Huntington foi publicado um artigo com o título O Choque da Ignorância, escrito por Edward Said, um grande escritor crítico à construção do “Outro imaginário” sem o real conhecimento das diferenças entre as sociedades. Said critica as generalizações e apontamentos feitos por Huntington ao ressurgimento islâmico. Realmente, a complexidade de uma civilização impede a elaboração te uma teoria única para definir a mesma. Na prática, é necessário ter cuidado com as generalizações ao relatar algo sobre o islamismo, pois não se pode pensar em um Islã único. Na verdade há vários tipos de comportamentos sociais que professam a fé islâmica. Certamente, há diferenças entre ser muçulmano no Egito e ser um muçulmano no Irã. Também há diferenças entre ser terrorista e um fundamentalista que somente quer preservar a sua fé. Estas diferenças não são muito claras para grande parte da sociedade ocidental. Por isso, um preconceito é formado:

[...] a personificação de entidades chamadas "o Ocidente" e "Islã" é imprudente fundada, como se questões extremamente complexas como a identidade e cultura exista em um mundo de desenho animado, no qual Popeye e Brutus lutam um contra outro sem piedade, com um sempre mais virtuoso boxeador que consegue vantagem sobre seu adversário.

Utilizando outras palavras, Said diz que o “conflito” entre Ocidente e o Islã não pode ser visto como um simples desenho animado, o qual personagens disputam constantemente um se sobrepor ao outro.

Gostaria de poder afirmar que a compreensão geral do Oriente Médio, dos Árabes e do Islã nos Estados Unidos melhorou um pouco. Mas, infelizmente, o fato é que isso não ocorreu [...] Nos Estados Unidos, o endurecimento das atitudes, o estreitamento da tenaz das generalizações desencorajante e do clichê triunfalista, a supremacia da força bruta aliada a um desprezo simplista pelos opositores e pelos "outros" encontraram um correlativo adequado no saque, na pilhagem.

Evidentemente, não se pode afirmar que todo o ocidente ou mais precisamente, que a nação norte-americana em geral, faz leituras inadequadas destes povos. Mas de fato, alguns da ala neoconservadora na política norte-americana ainda se julgam capazes de transformar o mundo e combater o desafio do ressurgimento islâmico, como se o ressurgimento fosse algo assombrador para o mundo. Logo, percebe-se que há uma falta de compreensão sobre o oriente e principalmente falta distinguir as subculturas que existem dentro da rica cultura oriental.


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