quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Artigo: Complexo do Alemão mostra a realidade brasileira

Flávio Riani

Ao longo dos últimos 8 anos os governantes brasileiros,começando pelo Presidente da República e passando por alguns governadores e também prefeitos, têm se vangloriado por terem feito choques de gestões, quando a realidade mostra um país com mínimos avanços, sobretudo na área social.

Nos últimos anos, mais precisamente a partir de 2003, o Brasil beneficiou-se da retomada do crescimento mundial e graças aos seus recursos naturais conseguiu obter crescimento da produção nacional, resultante das elevações nos patamares das exportações. Quanto a estas, nada mudou efetivamente na nossa pauta, na qual os minérios e a soja são ainda bens de maiores pesos relativos no total exportado.

As taxas de crescimento do PIB alcançadas pelo país foram melhores, se comparadas com nossa performance dos últimos 15 anos, porém inferiores às da maioria dos países sul-americanos e muito inferiores às dos países “emergentes”.

Tal resultado teve participação muito residual de políticas governamentais, tanto federais quanto estaduais.

No campo das finanças públicas pouco se avançou. Na realidade a lógica dos governos, federal e estaduais, foram as mesmas dos governos anteriores, cujo objetivo era e continua sendo a geração de recursos para pagamento dos encargos da dívida pública.

No governo federal e nos governos estaduais a arrecadação tributária teve crescimento real superior a 120% nos últimos 8 anos. Porém, estes recursos foram utilizados de forma inadequada, não contribuindo em nada para que houvesse transformações estruturais no país.

O complexo do Alemão revela esta cruel realidade espalhada para outras grandes cidades brasileira.
Na realidade, os governos continuam atuando para atender interesses de grupos privados, sobretudo na área da construção civil, e com obras totalmente desnecessárias sob o ponto de vista social e administrativo. Como forma de amenizar estas benesses, o governo utiliza a bolsa família como um antídoto às transformações necessárias e como forma de controlar manifestações populares. Enquanto se destina anualmente mais de R$ 100 bilhões para pagamento de parte dos juros da dívida, a bolsa família alcança menos de R$ 14 bilhões, e mesmo assim suficiente para que a sociedade acredite que ela tem transformado o país.

A verdade nua a crua está mostrada no complexo do alemão. Ele é reflexo do descaso do governo com a população. Ela mostra a forma desumana que vive grandes contingentes de famílias brasileiras. Além disso, ela mostra também que na desesperança e na miséria os jovens, na falta de perspectivas, se envolvem na vida aparentemente fácil do banditismo.

O Brasil real é muito diferente da euforia oficial que mostra apenas aquilo que lhe interessa e que, em alguns casos, ainda cerceiam o espaço para o debate.

Flávio Riani, economista, professor da PUC-MG e da Universidade de Itaúna, MG é membro associado do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do Unifieo – Geceu.


Fonte: http://webdiario.com.br/?din=view_noticias&id=53211&search=

As reuniões do GECEU: Sextas feiras, 18h30 as 19h30 na sala 37 (2º andar bo bloco Prata).

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