quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Artigo: Como matar a HP em apenas um ano

Digamos que você tem um ano para matar a Hewlett-Packard. Aqui vai a receita para fazer isso:

Demita o excelente diretor-presidente Mark Hurd por causa de irregularidades em sua conta corporativa e uma acusação suculenta que você mesmo admite que não tem mérito. Demita quatro membros do conselho da maneira mais pública possível. Incentive um êxodo em massa de executivos importantes que na verdade sabem como comandar a gigante americana dos computadores.
Contrate um novo diretor-presidente de um concorrente alemão, a SAP, que vende software empresarial e não produtos de consumo final. Diga ao novo diretor-presidente, Leo Apotheker, que Hurd "deixou a HP em ótimo estado".
Atraia críticas públicas de uma importante firma de consultoria de governança empresarial por causa de alegações que Apotheker preencheu as vagas do conselho com seus capangas.
Busque aquisições e recompras de ações caras. Permita que as despesas saiam de controle. Tente queimar dezenas de bilhões em caixa antes da próxima recessão mundial.
Provoque os parceiros Microsoft e Oracle com ameaças de instalar o sistema operacional da HP nos PCs dela. Aí decida não fazer isso. Lembra do webOS, aquele software promissor comprado pela HP junto com a aquisição de US$ 1,2 bilhão da Palm ano passo? Engavete-o.
Reclame quando Larry Ellison, da Oracle, dizer ao "New York Times" que "o conselho da HP acabou de tomar a pior decisão de pessoal desde que os idiotas do conselho da Apple demitiram Steve Jobs". E abra processos quando Ellison contratar Hurd.
Conte vantagem que vai atacar o iPad, da Apple, com seu TouchPad de US$ 499. Aí jogue o TouchPad no lixo com uma liquidação a US$ 99 e anuncie que simplesmente vai parar de oferecer o produto.
Telegrafe para o mundo que você é burro demais para fabricar smartphones.
Aumente suas previsões de resultados duas vezes. Aí não consiga alcançá-las. Duas vezes.
Assegura-se que o memorando de Apotheker vaze para a imprensa — aquele que diz "economize cada centavo e minimize as contratações".
Anuncie planos de comprar a firma britânica de software empresarial Autonomy pior US$ 10 bilhões, porque ela faz a mesma coisa que a SAP, que é o Apotheker sabe fazer melhor.
Anuncie planes de talvez vender sua divisão de PCs. Ou talvez desmembrar a divisão. A incerteza acaba prejudicando o preço dela.
Nem se preocupe com os anos de esforço da HP — inclusive a polêmica fusão com a Compaq — para se tornar a maior fabricante de PC do mundo. Esqueça que o negócio de PC serve para alimentar os negócios mais lucrativos da HP. Jogá-lo no lixo é um absurdo perfeito que um analista, Jayson Noland, da Robert W. Baird & Co., descreveu como a "McDonald's parar de vender hambúrguer".
Assista enquanto a Moody's ameaça rebaixar a nota de crédito da HP.
Aja com surpresa quanto a ação da HP desabar mais de 40%.
Vá para Wall Street e conte histórias longas e confusas sobre como você está transformando a HP de uma empresa com pouca margem para uma com alta margem de lucro.
Desde o colapso espetacular da diretora-presidente Carly Fiorina ao escândalo de espionagem ilegal autorizado pela ex-presidente do conselho Patricia Dunn, e até o suposto escândalo sexual de Hurd que aparentemente não envolveu nenhuma cópula, esse tipo de disfunção já se tornou "o jeito da HP".
Já faz um ano que a HP demitiu Hurd. Jack Kevorkian não conseguiria criar um plano melhor para a eutanásia de uma empresa. Mas como gostava de dizer o velho "doutor morte": "Morrer não é crime".

Fonte: http://online.wsj.com/article/SB10001424053111904716604576544431327165192.html?mod=WSJP_inicio_MiddleTop&linkSource=valor

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